quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Doadores de Sabedoria



Pacientes diagnosticados com doenças graves eternizam suas experiências e aprendizados, e nos ensinam a valorizar mais cada momento de nossas vidas. Vale muito a pena compartilhar esta iniciativa. Para saber mais:  www.doadoresdesabedoria.com.br

domingo, 13 de novembro de 2011

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Vacinas, cura do câncer e falsas esperanças

Novamente recebi questionamentos de pacientes sobre uma possível vacina que poderia curar o câncer, desenvolvida no Hospital Sirio Libanes. Tal informação se baseia em um e-mail que circula desde 2005 a respeito de uma eventual esperança de cura para pacientes com câncer avançado.
Tentando (e muitas vezes conseguindo) se aproveitar da boa vontade das pessoas - quase todos conhecem alguém que sofre com a doença - a mensagem nada mais é do que fraude, spam e mentiras.
Transcrevo a mensagem repassada, que se inicia com um sugestivo "ESSA EU REPASSO COM MAIOR PRAZER, E ESPERO QUE VOCÊ FAÇA O MESMO, REPASSE A TODOS OS SEUS CONTATOS":
Vacina anti-câncer RINS E PELE
Boas notícias são para partilhar.
Já existe vacina anti-câncer (pele e rins). Foi desenvolvida por cientistas médicos brasileiros,uma vacina para estes dois tipos de câncer, que se mostrou eficaz, tanto no estágio inicial como em fase mais avançada.
A vacina é fabricada em laboratório utilizando um pequeno pedaço do tumor do próprio paciente. Em 30 dias está pronta, e é remetida para o médico oncologista do paciente.
Nome do médico que desenvolveu a vacina:José Alexandre Barbuto
Hospital Sírio Libanês - Grupo Genoma.
Telefone do Laboratório: 0800-7737327 - (falar com Dra. Ana Carolina ou Dra.. Karyn, para maiores detalhes)
www.vacinacontraocancer.com.br
Isto sim é algo que precisa ser repassado..........
Alguém pode estar precisando !!!!!
Por favor, divulguem esta vitória da medicina genética brasileira!!!!

Como o Hospital Sirio Libanes de São Paulo, instituição com alta credibilidade científica, foi utilizado como suposta fonte da informação, já na época foi emitida uma nota de esclarecimento, que também transcrevo abaixo:

"Nota de esclarecimento sobre vacina contra o câncer
Em razão da notícia que está circulando na Internet, a respeito de uma vacina para tratamento de pacientes com câncer, o Hospital Sírio-Libanês apresenta os seguintes esclarecimentos: Nunca houve qualquer relacionamento comercial entre o HSL, ou qualquer médico do Centro de Oncologia, e a empresa que está comercializando esta vacina. O HSL, seguindo sua vocação para o desenvolvimento de novas terapias, participou da pesquisa da vacina, contando inclusive com patrocínio oficial da FAPESP (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo). Os estudos foram acompanhados pelo Comitê de Ética e conduzidos de acordo com o código de boas práticas médicas. Os resultados da pesquisa mostram um grau de atividade limitado, beneficiando temporariamente apenas um pequeno número de pacientes. Até o presente momento não há qualquer evidência de cura que possa ser atribuída a estas vacinas. Baseados nos resultados, o grupo de oncologia do HSL considera que estudos adicionais são de interesse, mas que não há, ainda, dados suficientes para se prescrever esta modalidade de tratamento de forma geral. Portanto, ele não está sendo prescrito ou aplicado no Centro de Oncologia do HSL. Para evitar descontinuidade, pacientes em tratamento com a vacina deverão discutir suas opções com seu oncologista.
Atenciosamente,
Dr. Dário Birolini
Diretor Clínico"

Busquei pessoalmente mais informações sobre o médico e a pesquisa realizada. Dr. José Alexandre Marzagão Barbuto é medico registrado no CREMESP em 1982, com foto, endereço, especialidade e e-mail não autorizados para divulgação. Pesquisa por artigos com autoria ou co-autoria deste médico em bases de dados de publicações (PubMed) mostra um número razoável de publicações (36), a maioria delas sobre estudos pré-clínicos - com culturas de células, animais ou tecidos vivos. Especificamente sobre o tema, há dois artigos publicados, em 2003 e 2004, que cito abaixo:

1. Artigo em que é relatado um caso de um paciente com câncer de rim, e que após ressecção de uma recidiva foi feita aplicação da vacina de células dendríticas. O paciente após seis meses apresentou novas lesões metastáticas, que não responderam a quimioterapia. O paciente evoluiu a óbito, posteriormente, por progressão da doença - não foi informado quanto tempo após. O artigo foi publicado em uma revista brasileira, com circulação internacional - a International Braz J Urol , revista oficial da Sociedade Brasileira de Urologia. O resumo pode ser encontrado aqui.

2. Artigo em que são relatados resultados de uma séria de casos de pacientes com melanoma e câncer renal, tratados com a vacina de células dendríticas. Foram 39 pacientes tratados, e em apenas dois deles houve alguma regressão de volume tumoral, temporariamente. O tempo mediano para progressão da doença foi de 4 meses nos pacientes com melanoma, e 5,7 meses nos pacientes com câncer renal. Não está relatada o tempo de vida does pacientes. O resumo pode ser encontrado aqui.

Em conclusão, as pesquisas publicadas aparentemente são sérias. Mas os resultados do ponto de vista clínico são irrelevantes. Mais estudos deveriam ser feitos, com melhores resultados, antes de se recomendar na prática.

 Apesar de ter recebido alguma divulgação na época (2005) por instituições respeitáveis, é importante ressaltar que não há nenhuma evidência de cura com este tipo de tratamento. O uso desta terapia é altamente questionável do ponto de vista médico. Mas do ponto de vista financeiro, é altamente rentável: para proceder com esta terapia, algum profissional retira o tumor cirurgicamente e a partir dele uma empresa produz a vacina, sendo que cada dose custava mais de R$3.500 (em 2005). Não tenho informações de quanto custaria hoje. Alegadamente seriam necessárias no mínimo duas doses.

Importante: solicito que que receber este e-mail não o repasse, pois estará divulgando falsas notícias, falsas esperanças e ajudando a divulgar um embuste, com interesses comerciais.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Quimioterapia em altas doses e transplante de medula óssea em mulheres com câncer de mama

Já foi moda nos Estados Unidos, após resultados de estudos iniciais. No Brasil houve muitos oncologistas que recomendavam às suas pacientes. Hoje não é mais realizado rotineiramente, após resultados de estudos mais consistentes.
Pacientes com câncer de mama sem metástases à distância, operadas, mas com alto risco de recidiva têm indicado tratamento pós operatório com quimioterapia e eventualmente hormonioterapia. Para tentar aumentar a eficácia desse tratamento, e tentar diminuir o risco de metástases durante o acompanhamento posterior, pesquisadores na década de 1990 sugeriram que bastava aumentar a dose da quimioterapia, até níveis máximos. Para que não houvesse falência da produção de sangue novo (com anemia, plaquetopenia e leucopenia irreversíveis) com essa quimioterapia em dose máxima, era necessário guardar armazenar células da medula óssea da paciente, e reinjetá-las após o tratamento. Esse procedimento é chamado "quimioterapia em altas doses e transplante de medula óssea".
Funciona bem em pacientes com determinados tipos de linfomas e leucemias.
Mas um estudo publicado nesta semana no Journal of Clinical Oncology, a mais respeitada revista científica na área de oncologia, confirmou através de uma metanálise de 15 estudos publicados, com mais de 6000 pacientes, que esta prática é inútil, e muito mais tóxica que o tratamento convencional, quando feita em pacientes com câncer de mama.
É bom saber que no início era até difícil incluir pacientes nos estudos, já que nas pesquisas as pacientes eram sorteadas para fazer ou o tratamento convencional, ou a quimioterapia em altas doses (com 50% de chance de cair em cada grupo). E poucas mulheres na época aceitavam a chance de não receber o novo tratamento. Achavam que o risco do câncer de mama voltar seria muito maior,se fizessem o tratamento convencional.  Há inclusive um excelente livro (infelizmente, encontrei apenas uma edição em inglês, aqui) sobre a falsa esperança dada pela novidade, aliada à falta de responsabilidade dos médicos na época, que recomendavam um tratamento sem evidências claras e confiáveis de benefício.
O tema não é novo, e as notícias não são boas. No entanto, a publicação deste artigo nos traz novamente a reflexão sobre como é importante fazer uma avaliação crítica das novidades médicas, os modismos, e a falta de preparo da comunidade médica em lidar com controvérsias.
Quem quiser, poder ver um resumo do artigo, em inglês, aqui.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Protetor solar reduz incidência de melanoma


A pele é o maior órgão do corpo humano e nos protege contra o calor, luz e infecções. Ela está exposta a vários agentes químicos e físicos que estão relacionados ao desenvolvimento e aparecimento do câncer, sendo o agente mais importante os raios ultravioletas solares (UV).
O câncer de pele é o tipo de câncer mais frequente, correspondendo a 25% de todos os tumores malignos registrados no Brasil. Entre todos os tipos histológicos, o mais temido é o melanoma, neoplasia originada dos melanócitos, células responsáveis pela pigmentação da pele. Embora o melanoma represente apenas 4% de todos os tumores de pele, ele é altamente agressivo e com grande capacidade de se espalhar (gerar metástases) para outros órgãos. Somente em 2010 ,foram registrados 5.930 novos casos de melanoma, no Brasil.
Embora pareça lógico o raciocínio de que o uso do protetor solar poderia proteger a pele contra os raios solares danosos e com isso diminuir o risco de câncer de pele , essa relação ainda era considerada controversa, principalmente com relação ao melanoma. A maioria dos estudos eram pequenos e conflitantes, e alguns até mostravam um aumento na incidência de melanoma nos grupos que mais usavam o protetor solar. Talvez porque esses indivíduos também eram os mais susceptivéis a câncer de pele, por serem, quase sempre ,de pele mais clara e viverem mais expostos ao sol. Entretanto,um  estudo recente , publicado em Janeiro de 2011, por uma das mais importantes revistas oncológicas, o Journal of Clinical Oncology,  parece reforçar o efeito benéfico do protetor solar na luta contra o melanoma.
Esse estudo foi conduzido por um grupo de pesquisadores australianos e seguiu 1.621 pacientes adultos, de raça branca, residentes na cidade de Nambur, na Austrália. Os pacientes, que tinham entre 25 e 75 anos, foram selecionados em 1992, e divididos aleatoriamente em 2 grupos: um grupo (812 pacientes) usaria protetor solar diariamente  na cabeça, nuca, braços e mãos; o outro grupo (809 pacientes) usaria o protetor livremente conforme o desejo de cada paciente, incluindo o não uso. O estudo durou até 1996 e os pacientes foram seguidos até 2006. O objetivo inicial era avaliar o impacto do uso do protetor solar na incidência de Carcinoma Basocelular e Carcinoma Epidermoide, tipos de câncer de pele, com altas taxas de cura, mas posteriormente, como objetivo secundário decidiu-se avaliar os efeitos sobre o melanoma. Entre 1996 e 2006 os pacientes eram avaliados e se houvesse suspeita de melanoma eram encaminhados para tratamento adequado.
Cerca de 75% dos pacientes do grupo do protetor solar aderiram ao tratamento proposto, enquanto, no grupo controle, mais de 70% não usavam protetor ou usavam com pouca freqüência. Após 15 anos de seguimento, houve o diagnóstico de melanoma em 36 pacientes entre os 1.651, sendo 11 casos no grupo que fez uso rotineiro do protetor e 22 casos no grupo controle. Houve portanto, uma redução de 50% no risco de incidência do melanoma com o uso diário de protetor solar, embora na analise estatística a significância desse resultado ainda seja discutível. Quando se analise apenas os melanomas invasivos a redução do risco foi de 73%.
Portanto, esse estudo populacional é único, nesses moldes, que acompanhou pacientes por um longo período, após serem submetidos ao uso diário de protetor solar e mostrou redução nas taxas de incidência do melanoma, em comparação com indivíduos que não fazem uso regular dessa proteção. Embora esses dados estejam de acordo com os conhecimentos sobre a carcinogênese dos tumores de pele é preciso que mais estudos sobre o assunto sejam realizados na tentativa de definir melhor o papel do protetor solar e qual o melhor momento para iniciar seu uso.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ASCO 2011

No encontro anual da ASCO (American Society of Clinical Oncology), em junho deste ano, foram apresentados os principais trabalhos em andamento. Muitos deles ainda não foram publicados, mas refletem o caminhar do conhecimento em oncologia do mundo.
De todos os trabalhos apresentados, cinco foram considerados os de maior impacto.Dois eram em oncologia pediátrica, um em GIST (um tipo raro de tumor) e dois em melanoma.
Estes últimos foram os que chamaram mais a atenção de todos, porque podem significar um novo tratamento padrão para melanoma. 
Até hoje não havia nenhuma terapia que fosse eficaz contra essa doença - é usada nos pacientes com melanoma metastatico uma droga chamada dacarbazina, desenvolvida na década de 70, e que em 5 a 10% dos pacientes conseguia fazer os tumores encolherem, e mesmo assim por um curto espaço de tempo. Nunca se demonstrou um aumento na expectativa de vida dos pacientes.
O primeiro estudo trouxe os resultados mais impressionantes, e comparou o uso de dacarbazina versus o de uma droga de alvo molecular chamada vemurafenibe. Essa droga age em uma mutação de uma proteína chamada BRAF. Essa mutação ocorre em cerca de metade dos casos de melanoma. O estudo:
- avaliou 675 pacientes (todos com mutação do BRAF) de 103 centros de todo o mundo
- dividiu de forma aleatorizada os pacientes em dois grupos, para receber dacarbazina ou vemurafenibe
- mostrou que o grupo que recebeu vemurafenibe teve 74% de reducao do risco de progressao da doenca, mas principalmente 63% de redução do risco de morte
- 5% dos pacientes que receberam dacarbazina tiveram redução do volume de doença, em contraste aos que receberam vemurafenibe, em que essa taxa foi de 48%
Desta forma, há uma nova esperança para pacientes com melanoma metastatico. A detecção da mutação pode ser feita em laboratórios especializados, existentes no Brasil, e esperamos que o registro do medicamento para uso no Brasil e em todo mundo seja feita de forma rápida.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Especialistas questionam o "brilhante conceito" do Avastin, após resultados fracos de estudos clínicos

A Bloomberg trouxe ontem uma discussão de especialistas sobre os reais benefícios do uso do Bevacizumabe (nome comercial Avastin) em vários tipos de câncer.
O Bevacizumabe foi visto inicialmente como uma forma inovadora e brilhante de atacar as células tumorais: privando-as do fluxo sanguíneo. Como droga atuante na angiogênese (formação de microvasos sanguíneos), estudos iniciais demonstraram que realmente havia diminuição da circulação sanguinea tumoral, após a aplicação do medicamento. Esperava-se também a ausência de efeitos colaterais...
O problema foram os resultados de estudos clínicos mais bem conduzidos, e que compararam pacientes com vários tipos de câncer que utilizaram o Avastin em combinação com quimioterapia, com pacientes semelhantes mas que receberam somente quimioterapia, sem o Avastin.
A discussão dos especialistas sugere que os benefícios encontrados foram pequenos, não clinicamente significantes. E que os riscos do uso do Avastin são problemáticos - os principais efeitos colaterais encontrados foram aumento do risco de sangramentos, trombose e perfurações intestinais. Apesar de não muito comuns, os efeitos colaterais encontrados colocam em risco a vida dos pacientes, e frequentemente aparecem de forma súbita.
O Avastin é hoje uma das drogas mais rentáveis da indústria farmacêutica, gerando no mundo uma receita anual de cerca de quase 7 bilhões de dólares à Roche, sua fabricante. É também um dos principais problemas dos planos de saúde no Brasil e em outros países do mundo, devido ao seu altíssimo custo. Logicamente, esse custo se deve ao caráter inovador do medicamento, mas também à agressiva estratégia de marketing do seu fabricante.
O Avastin é hoje aprovado pela ANVISA no Brasil para ser associado à quimioterapia em pacientes com câncer avançado de colon, pulmão e mama. Com a demonstração das limitações do medicamento, nos dias de hoje, é provável que a discussão se estenda mais, e que se criem mais limitações para seu uso.
Também será necessária a discussão de formas mais responsáveis de avaliação de novas drogas e tecnologias, com ponderação baseada em boas evidências científicas. Somente assim será possível, antes de expor pacientes a riscos desnecessários, avaliar de forma correta a relação risco/benefício de novas terapias contra o câncer.
O CEVON (Centro de Evidências em Oncologia), da UNICAMP, é um dos centros de pesquisa no Brasil que tem como missão tentar fazer essas avaliações de tecnologia, e ajudar a sociedade médica e científica a se manter atualizada, porém com responsabilidade e baseada sempre nas melhores evidências disponíveis. Como coordenador deste centro, acredito que a educação médica é a principal forma de lidarmos com estes questionamentos. Um médico bem informado e crítico pode repassar essas informações sobre riscos/benefícios para cada um de seus pacientes, e decidir em conjunto a melhor terapia, individualmente .

Para quem quiser ler a discussão completa, em inglês, clique aqui.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Aspirina pode diminuir o risco de morte por Câncer

No mundo moderno, o risco de se desenvolver um câncer ao longo da vida é da ordem de 40% e vem aumentando rapidamente. Só na Europa são 3,2 milhões de novos casos todos os anos, com 1,7 milhões de mortes. A previsão do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para o Brasil em 2011 são de 500 mil novos casos. Apesar do desenvolvimento de novas drogas para o tratamento, não surgiram nos últimos anos medicações de grande impacto na prevenção do câncer. Em estudos com modelos animais a aspirina se mostrou eficaz em diminuir a incidência de vários tipos de tumores. No entanto, nos estudos com humanos os dados eram conflitantes, parecendo haver relação entre uso de aspirina e menor incidência de adenomas benignos (lesões pré-malignas em intestino), mas sem evidências claras na diminuição da incidência e morte por câncer.

Estudo recente publicado na edição de janeiro da revista médica inglesa The Lancet sugere que o uso diário de aspirina por 5 anos ou mais poderia reduzir o risco de morte por vários tipos de neoplasias. Essa é a conclusão de uma análise de vários estudos que primariamente tinham como objetivo avaliar essa medicação na prevenção de eventos cardiovasculares. Os pesquisadores analisaram de forma agrupada oito estudos randomizados (com um total de 25.570 pacientes) onde os pacientes eram alocados para receber aspirina diariamente ou placebo ou outro antiplaquetário, com duração mínima de quatro anos. Esses pacientes foram acompanhados durante o estudo e após o término dos mesmos por até 20 anos e aqueles que morreram durante o estudo ou follow-up tinham a causa da morte determinada.

Os dados desta publicação mostraram que os pacientes que receberam aspirina diariamente morreram menos por câncer. O beneficio da aspirina começa a aparecer apenas após 5 anos do seu uso e parece ter diminuído as mortes por câncer não apenas de trato gastrointestinal, mas também de outros tumores , como de cérebro, pulmão e próstata. No entanto não teve impacto na redução de outros tumores, como as doenças malignas hematológicas. A redução do risco de morte por câncer nos pacientes que usaram aspirina foi de 33%, sendo uma redução de 54% para os tumores gastrointestinais, com as maiores quedas observadas em esôfago e intestino. Mesmo após 20 anos de seguimento os benefícios da aspirina se mantiveram.

A redução de morte por alguns tumores só foi observada tardiamente, como no caso de tumores de pâncreas após sete anos e tumores de estômago e intestino após dez anos. Os resultados independem do sexo, da raça, se o paciente fumava ou não e da dose de aspirina usada (mínimo de 75 mg/dia). Mas o impacto foi maior nos pacientes com mais de 65 anos e quanto maior o tempo de uso da aspirina. Além disso, os resultados foram semelhantes entre os oito estudos, sugerindo maior consistência dos dados.

No entanto, é preciso considerar algumas limitações e alguns possíveis vieses que podem ter interferindo no resultado. Primeiramente, esses estudos não foram desenhados para determinar o impacto da aspirina na incidência e mortalidade por câncer e sim o seu efeito relacionado a eventos cardiovasculares. Além disso, a maior incidência de anemia e sangramento no grupo da aspirina pode ter levado a uma maior investigação e detecção precoce de câncer. E finalmente, houve uma redução em todas as causas de morte no grupo da aspirina e não somente por neoplasia. Isso significa que novos estudos precisam ser realizados na tentativa de determinar de forma consistente e definitiva o beneficio da aspirina na prevenção do câncer.

Mas esse é o primeiro grande estudo que mostrou haver diminuição na incidência e mortalidade de diversos tipos de neoplasias solidas, não apenas tumores intestinais, em pacientes que fizeram uso de aspirina por no mínimo 5 anos. Além disso, esse beneficio não foi encontrado em nenhum outro agente antiplaquetário, o que coloca a aspirina como uma droga potencialmente efetiva na prevenção de mortes por câncer.

Resenha de artigo publicado no Lancet. 2011 Jan 1;377(9759):31-41.

Por Vinicius Correa da Conceição - médico oncologista do Instituto do Radium de Campinas e do Hospital Vera Cruz de Campinas

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Planos de saúde terão que justificar negativas de cobertura

Transcrevo importante notícia divulgada pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica:


"Operadoras de planos de saúde que negarem qualquer tipo de atendimento ou liberação para procedimentos terão que fazê-lo por escrito e incluir fundamento legal e contratual da recusa. O procedimento só acontece hoje mediante pedido formal do beneficiário do plano e vai facilitar ações judiciais para garantir a cobertura. A medida está em projeto de lei apresentado pelo deputado federal Chico Lopes (PCdoB-CE).

O texto também obriga as empresas a informarem, a cada três meses, o número e motivos das negativas à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e outros órgãos. Outras mudanças na lei dos Planos de Saúde fazem parte da proposta do parlamentar cearense. Maria Inês Dolci, advogada da Pro-Teste, que participou da elaboração do projeto, aponta que essa obrigação é bem vinda.

Hoje as negativas costumam ser dadas por telefone ou devolução do pedido, sem maiores explicações. "Consumidor tem direito a saber o motivo, mas não há regra que obrigue a justificar, ainda mais por escrito. O usuário dos planos sai ganhando com essa medida", avalia.

Ela não acredita que a recusa documentada aumente o número das ações na Justiça, mas vai ajudar a garantir o direito do consumidor. "Hoje o consumidor entra na justiça de qualquer maneira quando precisa de procedimento que é negado. Após pedido de liminar, a Justiça avalia se a negativa tem fundamento, mesmo sem justificativa do plano", explica.

Para o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge) no Rio, Sérgio Vieira, a medida é positiva por proteger o consumidor. Ele destaca, porém, que a justificativa já é feita quando o usuário faz uma reclamação à ANS. Uma vez aberta a Notificação de Investigação Preliminar (NIP), a operadora tem cinco dias para justificar a recusa e apontar uma solução para o problema."Isso já vem sendo feito", argumenta.

Fonte : Agência Brasil "